Projecto Piloto “Mecânica I faz a diferença!”
12 de outubro, 2021
Outra: Desenvolvimento Sustentável● 2021
Silvia Di Salvatore e Inês Ribeiro
ND
Implementação da Prática
O projeto piloto “Mecânica I faz a diferença!” (MFD), iniciativa do projeto Técnico Sustentável da Plataforma IST-Ambiente, com a colaboração dos núcleos de estudantes AmbientalIST e NEEA, decorreu no Pavilhão de Mecânica I do Campus Alameda do IST entre Novembro de 2019 e Março de 2020, teve como principal objetivo a introdução de um procedimento de separação e recolha diferenciada de resíduos sólidos urbanos (RSU) e o desenvolvimento de um modelo, com medidas de gestão operacional e estratégias de comunicação. O pavilhão onde decorreu o projeto é um edifício onde funcionam vários centros de investigação, laboratórios, uma biblioteca, uma sala de estudo e um anfiteatro, com uma população permanente de cerca 100 pessoas e uma população móbil de cerca de 50 pessoas.
O projeto piloto MDF foi desenvolvido em 4 fases:
Fase 1 – Monitorização. Nesta fase (Novembro 2019) foi realizada a monitorização dos resíduos do pavilhão geridos segundo o procedimento vigente no IST, com pesagens e estimativas volumétricas e qualitativas diárias dos resíduos indiferenciados produzidos no pavilhão, onde estavam instalados cerca de 100 caixotes em gabinetes e salas.
Fase 2 – Desenvolvimento do Modelo MFD, com medidas de gestão operacional com base Fase 1: - Remoção caixotes gabinetes e salas. - Colocação de ecoilhas em espaços comuns do edifício (indiferenciado, plástico, papel, vidro e compostavel). - Instalação de compostor no jardim do pavilhão. - Desenvolvimento Plano de Comunicação.
Fase 3 – Implementação:
– Lançamento de um Inquérito sobre Hábitos Sustentáveis em Ambiente de Trabalho junto de docentes, investigadores, funcionários e alunos do pavilhão.
– Desativação dos caixotes, colocação de 16 ecoilhas, e introdução de novo procedimento de recolha diária para os RSU indiferenciados e orgânicos, e semanal para os recicláveis.
Fase 4 – Avaliação.
Resultados Alcançados
Resultados da Fase 1
Os dados obtidos revelaram que no pavilhão (i) são produzidos em média cerca de 76 kg de resíduos indiferenciados por semana, (ii) 30% do total dos resíduos é das instalações sanitárias, e (iii) no total de resíduos indiferenciados, observou-se uma percentagem alta de resíduos plásticos e uma presença constante de resíduos orgânicos.
Resultados da Fase 2
– O Modelo MFD foi desenvolvido a partir de procedimentos já aplicados com sucesso em outras universidades, foi definido com base na fase de monitorização e nas características do espaço em análise, com as seguintes medidas: (i) a desativação de todos os caixotes de lixo indiferenciado dos gabinetes e das salas, (ii) a colocação de ilhas de separação de resíduos, constituídas por um conjunto de caixotes (indiferenciado, plástico, papel e cartão e vidro) em pontos estratégicos dos espaços comuns dos edifícios, tendo-se escolhido caixotes de cartão de 100 l, com características próprias para a recolha de resíduos, (iv) alteração do procedimento de recolha, passando a ser diária para os resíduos indiferenciados e orgânicos, e semanal para os resíduos plásticos e papel, (v) havendo uma considerável presença de orgânico nos resíduos do pavilhão, optou-se pela integração de pequenos baldes em algumas das ilhas, para permitir a separação dos resíduos orgânicos compostáveis e (vi) foi instalado um compostor no jardim do pavilhão, cedido pelo programa “Lisboa a Compostar” da CML. Juntamente com estes aspetos de gestão, desenvolveu-se um Plano de Comunicação constituído pela seguintes medidas integradas:
– Foi desenvolvido um inquérito sobre “Hábitos Sustentáveis em Ambiente de Trabalho” para todos os trabalhadores do pavilhão com o objetivo de caracterizar os hábitos da população do pavilhão e de consciencializar as pessoas sobre assuntos de sustentabilidade ambiental, para maximizar o sucesso do novo procedimento.
– Constituiu-se uma equipa de acompanhamento do projeto, formada pelos coordenadores do projeto, pelo gestor do edifício e a coordenadora das funcionárias de limpeza do pavilhão, com a função de (i) efetuar um levantamento das necessidades com vista a determinação do número de ilhas a implementar no pavilhão, (ii) desenvolver sessões de esclarecimento com os secretariados dos centros existentes no pavilhão, e ações de formação para todos os funcionários de limpeza sobre o novo procedimento (iii) garantir uma presença e acompanhamento constante na implementação do projeto.
– Foi desenvolvido um projeto gráfico com: (i) a elaboração de cartazes informativos de fácil leitura para os caixotes, onde confluíram texto e imagens com as principais regras de separação, (ii) a redação de plantas com a localização das ilhas para facilitar o controlo e a manutenção, (iii) a elaboração de cartazes, por parte dos alunos do núcleo AmbientalIST, para sensibilizar para a redução de gastos de papel e água nas instalações sanitárias.
Avaliação e Monitorização
Na sequência da monitorização do novo procedimento, observaram-se excelentes resultados, com 58% de resíduos recicláveis separados após introdução do modelo. O inquérito aos utilizadores do pavilhão permitiu conhecer a população alvo de intervenção. Nomeadamente, foi possível concluir que, numa escala de 1 a 5, em média, os respondentes indicam que separam os resíduos (vidro, garrafas de plástico, baterias e resíduos químicos do trabalho) com regularidade (M=3.99; DP=1.31) e têm uma atitude pró-ambiental no trabalho muito positiva (M=4.41; DP=0.67). Os utilizadores deste pavilhão indicam ainda uma forte necessidade de se manterem informados sobre as questões pró-ambientais no seu local de trabalho (M=4.04, DP=0.81), reconhecendo no entanto que as atuais instalações do IST não são suficientes para a separação de resíduos (M=1.84, DP=1.02).
Carácter Inovador e Transferibilidade
O projeto piloto MFD permitiu testar o modelo desenvolvido, perceber as dificuldades e identificar os pontos essenciais para uma implementação de sucesso a larga escala em toda a instituição. A realização de estudos paralelos e integrados no plano de comunicação, nomeadamente o inquérito sobre os hábitos sustentáveis e a monitorização, permitiu não só comunicar eficazmente resultados, mas também efetuar análises ambientais e económicas do projeto, com resultados possíveis de extrapolar para todo o IST.
Este projeto serviu como laboratório de uma experiência colaborativa no campus Alameda, na qual participaram ativamente alunos, investigadores e funcionários docentes e não docentes. Foi também envolvida toda a comunidade do pavilhão através do plano de comunicação seguido, assegurando um sentimento de pertença que foi crucial para atingir estes resultados.