Educação Superior ● 2017
José Tribolet (Presidente do DEI); Gonçalo Moura (NDA)
Implementação da Boa Prática
A LEIC Bootcamp é uma atividade que nasceu por iniciativa do corpo docente da nova UC de IEI – Introdução à Engenharia Informática da LEIC-A e da LEIC-T cujo responsável é o Prof- José Tribolet, e que foi acolhida positivamente pelos órgãos de gestão do DEI, num quadro estratégico ambicioso de melhoria do sucesso pedagógico dos alunos que se inscrevem pela1ª vez no 1º ano das LEICs e que conta com várias intervenções entre as quais a que aqui se candidata.
Esta iniciativa foi concebida, concretizada e monitorada em parceira intima com o Núcleo de Desenvolvimento Académico – GATu e que tem contado com a colaboração empenhada e competente da Coordenação do Secretariado do DEI.
O Programa foi criado com o objetivo de facilitar a integração dos novos estudantes da Licenciatura em Engenharia Informática e de Computadores (LEIC), na comunidade académica estudantil, quer dos seus colegas caloiros, quer dos estudantes monitores, que participam na atividade e que acompanham os novos estudantes com grande generosidade e competência.
Após análise ponderada da proposta de realização do LEIC Bootcamp por parte dos órgãos centrais do IST, nomeadamente o CG; a iniciativa pode contar com o apoio e o empenho pessoal do Presidente do IST; Prof. Arlindo Oliveira, no estabelecimento do diálogo interinstitucional e das condições formais e operacionais exigíveis a que esta atividade passasse a integrar o portfólio oficial das atividades académicas dos estudantes da LEIC.
Esta prática foi implementada pela primeira vez no início do ano letivo 2015/2016 e divulgada a todos os estudantes da LEIC inscritos pela 1ª vez no 1º ano do curso. Inicialmente foi estabelecido um acordo entre o IST / Departamento de Engenharia Informática e a Academia da Força Aérea (AFA). No âmbito deste acordo, a AFA comprometeu-se a apresentar uma proposta de atividades para os estudantes desenvolverem durante um fim de semana, que possibilitassem a promoção do desenvolvimento das suas capacidades de liderança, gestão do stress e relacionamento interpessoal.
Os primeiros preparativos para esta atividade ocorrem a meio do segundo semestre. No mês de maio é enviado um formulário Google a todos os estudantes da LEIC que estão a terminar o 1º ano, convidando-os a serem monitores no LEIC Bootcamp do próximo ano letivo. Durante os meses de maio e junho é feito o alinhamento das atividades com a AFA, de modo a conseguir-se escolher um fim de semana para se realizar o acolhimento no Bootcamp. Junho é também o mês em que se começa a solicitar a atualização do material de divulgação da atividade ao NME (Núcleo de Multimédia e e-Learning), assim como o Kit Bootcamp. O Kit Bootcamp é constituído por um saco para cada monitor, com um conjunto de T-shirts para distribuir pelos alunos da sua equipa, os certificados de participação na atividade, as fitas do IST com os respetivos identificadores para usar ao pescoço dentro das instalações da AFA, blocos e canetas. Todo o material é solicitado ao IST, com exceção das T-shirts que são personalizadas com o Nº da equipa e nome da atividade, sendo por isso adquiridas foram do IST com o financiamento do DEI (Departamento de Engenharia Informática).
Em setembro finalizam-se os preparativos da atividade, que são os seguintes:
- Confirmar a renovação do seguro escolar, a tempo dos estudantes saírem para a atividade;
- Aluguer dos transportes que irão levar os estudantes para as instalações da AFA;
- Imprimir os flyers de divulgação da atividade, para que posteriormente possam ser distribuídos na semana das inscrições a todos os novos estudantes;
- Confirmar a todos os estudantes inscritos, por email, as horas e respetivo ponto de encontro da partida no dia da atividade, assim como o material necessário e aconselhável levar;
- Após o encerramento das inscrições da atividade, todos os inscritos são divididos aleatoriamente por equipas e atribuídos a cada monitor. Cada monitor tem a responsabilidade, após receber informação por email dos elementos da sua equipa com os respetivos contactos telefónicos, de garantir e controlar a presença de cada elemento na atividade.
A atividade implica sempre uma Sexta-feira, um Sábado e um Domingo, pelo que por norma o
planeamento da mesma se divide da seguinte forma:
(Sexta-feira):
16H00 _ Meeting point: Entrada do IST Alameda Alunos LEIC A + Monitores
16H30 _ Partida para o Taguspark
16H30 _ Meeting point Paragem do shuttle Taguspark Alunos LEIC T + Monitores
17H00 _ Partida para a Academia da Força Aérea Portuguesa (AFA)
18h00 – Chegada à AFA;
18h10 – Auditório Principal
- Discurso de boas vindas pelo Comando da AFA.
- Apresentação do briefing da Ação de Formação.
- Conjunto de apresentações a cargo do IST
19h30 – Jantar:
- no acampamento para os alunos do 1º ano da LEIC;
- na messe de Oficiais da AFA para militares e pessoal de enquadramento do IST.
20h30 – Distribuição material e instalação no acampamento.
(Sábado):
06h45 – Alvorada com requinta;
07h15 – Pequeno-almoço
- no acampamento para os alunos do 1º ano da LEIC;
- na messe de Oficiais da AFA para militares e pessoal de enquadramento do IST.
08h00 – Concentração no Acampamento;
- Início da 1.ª sessão de exercícios.
12h00 – Almoço
- no acampamento para os alunos do 1º ano da LEIC;
- na messe de Oficiais da AFA para militares e pessoal de enquadramento do IST.
14h00 – Concentração no Acampamento;
- Início da 2.ª sessão de exercícios.
18h00 – Jantar
- no acampamento para os alunos do 1º ano da LEIC;
- na messe de Oficiais da AFA para militares e pessoal de enquadramento do IST.
20h00 – Concentração no Acampamento;
- Início da 3.ª sessão de exercícios.
24h00 – Descanso
(Domingo):
06h45 – Alvorada com requinta;
07h15 – Pequeno-almoço
- no acampamento para os alunos do 1º ano da LEIC;
- na messe de Oficiais da AFA para militares e pessoal de enquadramento do IST.
08h00 – Concentração no Acampamento;
- Início da 4.ª sessão de exercícios.
12h00 – Fim dos exercícios.
12h10 – Fotografia de grupo em frente ao avião T38.
12h15 – Conclusão da Ação de Formação
Resultados Alcançados
Até ao momento foram já realizadas duas edições do LEIC Bootcamp, sempre em parceria com a Academia da Força Aérea (AFA) e com participação voluntária por parte dos estudantes. Em média, em cada uma das duas edições já realizadas participaram cerca de 25% dos novos ingressos na LEIC, isto é, cerca 70 estudantes, A avaliação desta atividade é feita online, através de um questionário, tendo-se obtido em média uma taxa de resposta de 71.45% (1º edição n=64; 2ª edição n=37). Em média 81.19% dos respondentes são do género masculino (n=82) e 18.81% do género feminino (n=19). A média de idades predominante dos participantes situa-se entre os 18-20 anos (94.06%), o que se revela compreensível dado que esta é uma atividade cujo publico alvo são os estudantes de 1º ano, 1ª inscrição no IST, na LEIC.
A atividade apresenta uma média de taxa de satisfação global de 8.54, sendo esta avaliada numa escala de 1 a 10, em que 1 se refere a Nada Satisfeito e 10 a Muito Satisfeito.
Em relação a aspetos a melhorar os estudantes referiram que em próximas edições é fundamental tornar mais clara a lista do material a levar para a atividade, para não existirem alunos com falta de itens importantes. Outro aspeto a melhorar foi a composição das equipas, dado que há estudantes que referem querer trabalhar com colegas do seu campus de estudo, outros preferem equipas mais heterogéneas quanto ao campus que frequentam. É indicada também a necessidade de mais momentos de convívio entre todos os estudantes participantes na LEIC Bootcamp.
Relativamente à atividade em si, os quatro blocos de atividades têm vindo a ser avaliadas positivamente pelos respondentes. Os quatro blocos de atividades foram avaliados numa de 1 a 10, em que 1 se refere a Nada Satisfeito e 10 a Muito Satisfeito. Em média as atividades de orientação foram avaliadas em 8.29, sendo que alguns estudantes referiram que estas atividades deveriam ser mais desafiantes; as atividades de transposição de obstáculos foram avaliadas, em média, em 8.71; as atividades de treino de formação militar obtiveram, em média, uma classificação de 8.61, sendo que alguns alunos referiam estar à espera de atividades mais exigentes do ponto de vista físico, assim como as atividades de airsoft e paintball foram descritas como sendo muito apelativas mas pouco duradouras; as atividades de liderança obtiveram, em média, uma avaliação de 7.99, sendo que alguns estudantes referiram que esta atividade deveriam possibilitar a partilha entre equipas e deveria ser mais desafiante.
No que respeita ao ambiente militar, as avaliações apontam para o facto dos respondentes terem percecionado positivamente a interação com os monitores e instrutores da AFA, sendo que a única sugestão a ter em conta neste domínio é o facto de alguns respondentes terem referido que gostariam de ter experienciado um clima mais rígido e exigente durante a realização das provas.
Avaliação e Monitorização
A atividade é avaliada através de um questionário online, enviado a todos os estudantes participantes (alunos de primeiro ano e monitores). Este questionário está dividido em três partes:
identificação do estudante (género, idade e campus a que pertence), Satisfação global e uma última parte de opiniões e sugestões. Os principais tópicos tidos em conta para recolher os níveis de satisfação global dos estudantes prendem-se com a satisfação para com as atividades realizadas, para como a relação e interação com os elementos da AFA, assim como também é questionado aos estudantes a adequação do grau de exigência física e intelectual das atividades previamente preparadas pela AFA. Este questionário permite-nos identificar quais as atividades que mais satisfazem os estudantes, assim como tentar adaptar as suas sugestões de melhoria quer ao nível da organização do evento, quer ao nível do seu grau de adequação relativamente às condições físicas necessárias para desenvolver algumas das atividades.
O questionário online permite-nos monitorizar a satisfação dos estudantes, assim como o que corre bem e o que pode ser melhorado após a realização do evento. No entanto, por segurança e precaução, são destacados dois técnicos do Núcleo de Desenvolvimento Académico para acompanhar as atividades, presencialmente, no decorrer do fim de semana. Os técnicos podem monitorizar os níveis de cansaço dos estudantes, o nível de adequação das atividades propostas, promover a interação entre equipas, apoiar no caso de existir algum imprevisto com algum dos participantes, assim como estabelecer um ele de ligação entre a atividade e a escola no caso de algum estudante necessitar de algo.
Carácter Inovador e Transferibilidade
A avaliação globalmente positiva desta atividade inovadora no âmbito da receção aos novos alunos no IST, encoraja a continuidade da mesma em anos letivos futuros, agora com algum saber acumulado que permite, no futuro, níveis ainda mais elevados de satisfação dos participantes.
Os bons resultados obtidos, atendendo aos níveis de satisfação global revelados pelos estudantes é possível verificar que esta poderia ser uma prática bem acolhida em outros cursos de grandes dimensões, onde o conhecimento dos elementos e o espírito de equipa entre os estudantes nem sempre é fácil de fomentar celeremente.
O facto dos estudantes estarem um período de tempo, fora do contexto académico, a desenvolverem atividades onde são colocados à prova, excedem a sua zona de conforto e se apoiam mutuamente para alcançar um objetivo final, são algumas das chaves que permitem despoletar o espírito de camaradagem e a construção de relações sólidas que possibilitaram aos estudantes criar redes de suporte, fundamentais para promover sentimentos de pertença face à instituição e ao curso, bem como possibilita uma integração bem sucedida ao ensino superior.
Estes são alguns excertos de comentários de estudantes participantes, que resumem na primeira pessoa o potencial desta iniciativa. Os comentários livres dos estudantes reportam esta situação:
“Foi tudo fantástico, foi sem duvida uma experiência única e que recomendo a todos os meus futuros colegas de primeiro ano de LEIC.”
“Os militares ajudaram-nos muito e o convívio com toda a comunidade de LEIC tanto do Taguspark como da Alameda.”
Este tipo de ação é replicável, ainda que possivelmente em moldes diferentes, em qualquer um dos cursos do Instituto Superior Técnico e de outras faculdades, sendo que o principal objetivo é promover o convívio e a interação entre os estudantes que, recém-chegados a um ambiente novo e pontualmente percecionado como hostil, são integrados muito mais rapidamente na faculdade, no curso e na equipa de outros estudantes do mesmo curso.
Realçamos que será importante escolher bem o período de realização da atividade, sendo que será crucial que ela ocorra o mais precocemente após a admissão dos estudantes no ensino superior, assim como o envolvimento e divulgação da iniciativa com o apoio de outros estudantes, uma vez que possibilita a credibilização e os benefícios da mesma junto dos novos estudantes.
Embora não se disponham de dados objetivos recolhidos via inquérito direto aos estudantes e docentes de IEI, no que se refere ao impacto percebido no âmbito da UC de IEI da LEIC, é consensual, no contexto das vivências tidas no decurso das interações nas aulas da disciplina, que a atitude dos alunos que participarem no LEIC Bootcamp revelam à partida atributos comportamentais quer individuais, quer coletivos muito positivos e diferenciadores dos que não participaram.
O corpo docente de IEI considera deverem ser aprofundados os meios para estimular a adesão de todos os novos alunos que ingressam no 1º ao da LEIC a participarem no LEIC Bootcamp, estando criadas as condições físicas em termos da parceria com a AFA para se poderem acolher em condições adequadas todos estes 300 alunos, nomeadamente realizando fisicamente o Bootcamp na Base Aérea de Ovar, totalmente equipada para estes fins.
Finalmente há que referir terem existido contactos com dirigentes associativos que perguntam porque é que esta atividade é restrita aos alunos do 1º ano da LEIC.
Na opinião dos originadores desta iniciativa e atentos os resultados positivos já alcançados, vê-se como do maior interesse a extensão desta prática a todos os alunos que ingressam no IST pela primeira vez no 1ºano de qualquer curso de 1º ciclo, inserindo esta vivência coletiva no programa oficial de acolhimento, e que teria toda a vantagem em ter uma duração um pouco superior à atual, no mínimo de 3 dias ao máximo de uma semana.
Este acolhimento institucional estruturado à vida académica universitária iria proporcionar o estabelecimento alargado de redes sociais físicas entre os novos estudantes, ajudá-los a quebrar intelectualmente com uma linha de continuidade na comodidade das relações da sua vida pré universitária, que é frequentemente fator negativo na sua adaptação aos rigores da sua nova vida académica no IST, e proporcionar também ambientes de conhecimento e convívio entre os seus futuros docentes do 1º ano e os tutores que os vão acompanhar personalizadamente nos 1ºanos da vida universitária.
Note-se que este tipo de iniciativa e de programa nada tem de inovador a nível mundial, sendo mesmo em muitas, mas melhores universidades do mundo um requisito obrigatório no processo de admissão. Não é o caso em Portugal, sendo que se desconhece porque razão este tipo de boas práticas tem sido totalmente ignorado ou contrariado e desprezado em toda a universidade portuguesa.